Entrevista bombástica com George Sales, presidente do Reparação time tradicional de Itapuã.

A várzea está cheia de frustrados, jogadores que não deram certo no profissional e ficam cobrando para jogar futebol amador.

Entrevista bombástica com George Sales, presidente do Reparação time tradicional de Itapuã.
Foto: Nagalera FC / Jackson Monteiro

Nagalera - Sabemos o quanto é difícil fazer futebol amador em Salvador, onde só se tem recursos públicos, que são verdadeiras migalhas, em ano eleitoral, e mesmo assim, você decide montar um time. Qual foi o grande motivo de você cria um time de futebol amador e porque o nome Reparação?

George Sales: Hoje é complicado montar um time, praticamente sozinho e o recurso público como você falou é migalhas em ano eleitoral. Fazemos futebol amador pelo amor ao esporte. O nome Reparação, foi escolhido, pelo motivo de eu ter saído de um outro time aqui do bairro, que se tornou meu rival, e Reparação é reparar, ajustar, alinhar o que está errado, então esse foi o motivo do nome Reparação.

Nagalera - O Reparação nesses anos de história, sempre montou grandes times, verdadeiros esquadrões, e o título de expressão nunca chega, algumas pessoas atribuem isso, ao seu comportamento extra campo, que você fala demais, até onde isso é verdade e porque o título não chega?

George Sales: Verdade sempre armamos grandes elencos, o título expressivo não veio. Para os olhos dos “contra” dizem que falo demais no extra campo, mas sempre chegamos bem e não conseguimos fazer um gol, que na maioria das vezes era o que o time precisava para ser campeão. A maioria dos atletas tido como os melhores da várzea não são presentes nos jogos e só vão na fase final. Com isso o time não fecha por mais que o atleta seja bom, se não fechar não chega.

Nagalera - A várzea hoje está num nível "semiprofissional", só se fala de pix, muita vaidade entre jogadores, um ego exacerbado de vários donos de times, que fazem de tudo para ser campeão, entidades surgindo todos os dias, que só visam interesses próprios e nada fazem pelo futebol, diante disso tudo, como você ver esse atual momento do futebol amador de Salvador?

George Sales: A várzea está cheia de frustrados, alguns jogadores que não deram certo no profissional ficam cobrando para jogar futebol amador e a maioria das vezes os donos de times não tem condições, aí eles deixam de ir para um jogo, ajudar algum time que precisa dele, para ir às vezes ficar no banco, em um time que paga para ele está lá. Hoje a vaidade está demais ninguém anda mais de ônibus, agora é só uber ou tem que ir buscar em casa. mas se eles fazem isso é por que tem donos de times que tem condições e podem pagar, ai ficam mal acostumados, então viva. Mas os atletas amadores que cobram para jogar não tem amor pelo o esporte, só vai pelo dinheiro e pelo ego de estar sendo pago.

Nagalera - Você além de ser um amante do futebol amador, um ícone da várzea, também é cantor e compositor, como você reagiu e se comportou durante o período crítico da pandemia do Covid19? como foi para George, não poder fazer as atividades que você mais gosta?

George Sales: Sempre disse que o futebol amador me emociona, não deixo de estar no bairro vivendo a várzea para ver jogo profissional, onde ganham milhões e não é justo pelo o que mostram em campo. Não me considero um ícone da várzea, só me faço presente nas arenas de bairros de Salvador, por isso dizem isso. A música é acima do futebol na minha vida, pois é o talento recebido de deus, foi e tem sido difícil para muitos neste período de pandemia, e para mim não foi diferente, mas graças a deus estamos suportando, vencendo e voltando nossas atividades.

Nagalera - Voltando para o futebol e em especial ao Reparação, qual foi sua maior alegria com esse time, e sua maior decepção ou frustração?

George Sales: Reparação é minha segunda pele. Minha maior alegria foi em 2016 quando fomos campeões aqui no bairro, e minha maior decepção é constante quando eu chego em um atleta do grupo para vim para o jogo, aí ele diz que não vai poder vir porque vai para outro jogo, porque o dono do time paga a ele. Mesmo sabendo que a gente precisa mais dele, eu acho que o jogador para cobrar para jogar tem por obrigação de ser extraordinário, tem que acabar com o jogo, ficam um monte de frustrados se sentindo melhor que A e B cobrando para jogar futebol amador. Fui ver uma rodada recente e vi um monte de amigos que são tidos como os melhores da várzea no banco, está no time só por que ganham para esta ali, podendo está em outro time para ajudar um grupo que precisa de ajuda. Vejo que a várzea vai daqui a um tempo vai acabar ou vai ser só para times que os donos podem bancar os caprichos de alguns jogadores.

Nagalera - E essa novidade agora, que o Reparação está se dedicando ao futebol de Base, fazendo um trabalho voltado para os "moleques" isso é para fugir dos insetos da várzea?

George Sales: Irmão, não estou me dedicando a base só estou dando oportunidades a garotada, porque se inscrever só rodados os garotos não jogam, porque a prioridade são as cobras criadas. Aí resolvi neste campeonato apostar nos garotos e até o momento está dando certo, chegamos na final do campeonato aqui do bairro, que será dia 05 de dezembro. O que me encanta nos garotos é a vontade de vencer, eles não desistem nunca, está sempre brigando por todas as bolas.

Nagalera - Para finalizar, faça suas considerações finais e avalie o trabalho que o Nagalera vem fazendo em Salvador desde 2014.

George Sales: Como sempre digo, o Nagalera foi e tem sido o combustível para futebol amador, é o intercâmbio de aproximação de muitas pessoas, através do Nagalera conheci muita gente boa e muito jogador bom de alto nível. Fiz amizades que vou levar para toda vida, não vou citar nomes, mas o trabalho que o Nagalera faz no futebol amador é fantástico, leva nossas comunidades, nosso futebol amador paras as redes sociais. Nagalera é o maior meio de aproximação do futebol amador.