Entrevista com Júnior Paredão, goleiro veterano que ainda é cobiçado para o campeonato de novos em Salvador.

Romildo Pedro Júnior atendeu, como sempre, a equipe do Nagalera e fez um breve apanhado dessa brilhante carreira na várzea.

Entrevista com Júnior Paredão, goleiro veterano que ainda é cobiçado para o campeonato de novos em Salvador.
Foto: Nagalera FC / Júnior Paredão e o filho Júlio Cesár, campeões jogando junots em 2019.

Nagalera: Você foi da base do Flamengo, chegou a fazer parte do mesmo grupo do goleiro Júlio César, como foi para você chegar tão perto do profissional, não vingar e hoje jogar campeonato de bairro?

Júnior Paredão: Foram momentos incríveis no Flamengo em 97, segui jogando profissionalmente até 99. Hoje jogando na várzea é mais por amor ao futebol, é um vício maravilhoso.

Nagalera: Em 2019, você foi campeão mais uma vez, só que desta vez jogando com seu filho, inclusive pegando pênalti na final, foi sua maior conquista na várzea? Me conte como foi essa emoção, e quantos títulos você tem?

Júnior Paredão: Sem dúvidas foi minha maior emoção, Júlio me acompanha desde pequeno e ganhar um título pegando 2 pênaltis e vendo ele protagonista foi a maior emoção que tive até hoje, e ele chorando abraçado comigo foi marcante, Eu tenho mais de 20 títulos  na várzea e no interior do estado.

Nagalera: Você hoje tem mais de 40 anos e mesmo assim é destaque em campeonatos de novos, nossas imagens comprovam isso. Seu nível é muito alto ou o nível técnico da várzea tem caído ano após ano?

Júnior Paredão: Jogo hoje com 44 anos porquê tive uma base boa, difícil ver um goleiro dessa geração chegar aos 44 no meu nível, então quando me comparam aos mais novos é motivo de muito orgulho para mim. Mas sem dúvidas o nível da várzea de Salvador caiu demais.

Nagalera: Quem você apontaria como os diferentes do futebol amador? Você diz no grupo Nagalera que a várzea hoje tem um grupo fechado dos mesmos jogadores em todos os campeonatos, me explique melhor isso.

Júnior Paredão: Hoje em dia a várzea está com um grupo de no máximo 30 jogadores, que jogam sempre juntos, e ganham títulos em 3 a 4 bairros de Salvador, hoje em dia está numa barca boa onde pode beber e ganhar dinheiro superou a vontade de jogar. Uma pena, pois, é uma geração de muita vaidade e pouca personalidade. Exemplo não temos mais um camisa 10, poucos como Pânico, Ganso, Vicente que é um segundo volante, esses são fora de séries. Mas hoje em dia os atacantes deitam e rolam, Nanal, Keka, Gazito e Chorinho.

Nagalera: Hoje na várzea é uma correria doida, e pouco futebol, vejo sempre você falar de Deri, que era craque, quem da galera de hoje, jogaria no seu time no lugar dele?

Júnior Paredão: Deri foi o mais diferenciado que já joguei, era bonito vê-lo jogar, eu sabia que a qualquer momento ele tiraria um coelho da cartola, hoje em dia velocidade substituiu o raciocínio, eu prefiro ver o campeonato de master do que de novos, e no lugar de Deri, hoje, ninguém jogaria no lugar dele.

Nagalera: Real Madrid preparou tudo, alugou espaço, comprou cerveja, contratou buffet e não acertaram com o São Marcos, e vocês foram lá e 3x2 na final, Campeão no Beira 2018, fala dessa conquista Paredão.

Júnior Paredão: Real Madrid foi um grande adversário, mas eu tinha a convicção do título, pois na semifinal tiramos o FanClub, que na minha opinião era a melhor equipe. No futebol não pode ter soberba, calamos Castelo Branco, eu lembro que 15 minutos após encerrar o jogo os camarotes do Beira Lixo já estavam vazios, O São Marcos mereceu o título.

Nagalera: Porque o Botafogo sob o comando de Dudú ainda não emplacou no Beira Lixo?

Júnior Paredão: Botafogo tem uma grande equipe, acho que vai encaixar e chegar nas finais com certeza, Dudu está enfrentando um grande desafio, é um craque e vai tirar essa situação com muita tranquilidade

Nagalera: E a Ponte Preta 2016, que time foi aquele? Você tomou algum gol?

Júnior Paredão: A ponte foi algo mágico, nunca vi um grupo tão simples e tão unido na minha vida. São coisas que acontecem poucas vezes na vida e a Ponte foi uma delas, não me pergunte porquê, mas eu sabia que seríamos campeões nunca joguei uma final tão confiante na vida como aquela. Eu tinha certeza que seria fundamental, quando fomos para os pênaltis, aquele título foi surreal.

Nagalera: Você tem dois filhos com nomes de goleiros, você é maluco?

Júnior Paredão: Totalmente maluco, goleiro não pode ser normal, Júlio Cesar não se tornou goleiro, mas Llorris será, Julian acho que será também. (risos)

Nagalera: Em sua última partida na Regional, jogando pelo Bons Amigos, eu vi um Júnior encapetado, terrorista, pistola, qual foi ali? (risos)

Júnior Paredão: É um dia que me envergonho muito, eu estava transtornado pela burrice dos treinadores dos Bons Amigos em escalar o time errado, odeio perder, levo muito a sério, e também houve desrespeito de alguns jogadores do rival, eu perdi a cabeça, é um dia que não deveria nem ter saído da cama.

Nagalera: Futebol Brasileiro x Futebol Europeu, tem condições do Brasil vencer os gringos?

Júnior Paredão: Acho que as próximas 3 gerações não verá o Brasil ganhar mais nada, mundial de clubes ou mundiais. Geração pobre onde a mais de 10 anos só quem brilha é Neymar, antes tínhamos cinco craques na seleção e hoje em dia apenas um. Pobre futebol brasileiro.

Nagalera: Você tem anos de várzea, já foi campeão em tudo quanto é bairro, fez sucesso no intermunicipal, com essa bagagem toda, eu queria saber o que você ver de positivo e negativo no Nagalera.

Júnior Paredão: O Nagalera mudou a várzea de Salvador, acho que hoje em dia a várzea não teria o mesmo brilho sem o Nagalera. O ponto negativo é que ficou muito explícita a vaidade de dirigentes e jogadores dengosos, onde não jogam 50% que acham que jogam.

Nagalera: Você anda lendo bastante, inclusive o livro de Pep Guardiola, quando você parar de jogar, pretende ser técnico na várzea? E você vai parar quando?

Júnior Paredão: Estou numa nova etapa de minha vida, ando lendo bastante sim, vou sim virar técnico na várzea e vou ganhar muitos títulos, fui um dos grandes goleiros da várzea e serei um dos grandes técnicos, tenha certeza. Essa temporada 20/21 será minha última como goleiro, o corpo não aguenta mais, mas tenho certeza que ficou uma história bonita, de muitas amizades e belos títulos. 

Obrigado futebol!